sábado, 22 de setembro de 2007

O PRIMEIRO DIA DA MENDIGA

Dedico este poema a uma senhora que conheci rica e que, exactamente há dois dias, se me dirigiu, na rua, para me pedir dinheiro para aviar uma receita médica. Disse-me que tinha a casa à venda e que estava numa situação tão desesperada que decidiu estender a mão à caridade. Enquanto me contava as lágrimas não paravam de cair.
A esmola é muito pouco para uma situação destas. Deixo-lhe este poema para que outros o leiam e se questionem sobre o que está a acontecer neste Portugal profundo.

***

Passou por mim, pela primeira vez mendiga,

ela que outrora ordenava e foi rainha.

Passou por mim, e estava tão sozinha,

nos hábitos que acusavam a fadiga.

***

Por umas moedas, de lágrimas consumida,

ela estende a mão pela primeira vez na vida

e também eu, pela primeira vez, ao dar esmola

me senti igual a ela tão mendiga.

23 comentários:

7 disse...

O muito obrigada pelas palavras expressas por ti ao poema da minha Avó. A cada dia que passa agradeço a tua presença na blogosfera. Cada vez mais gosto de te visitar, pois correspondes às minhas expectativas. Tens muita alma e maravilhas para partilhar. Bem hajas!

Realmente é chocante o dia a dia que vivemos. Sentir na pele o que presenciaste faz doer a alma e fazer pensar o que nos poderá acontecer num futuro. Oxalá que não nos aconteça, mas o ditado: "Estou começado, não estou acabado" tem de se levar muito a sério. A parte em que disses que te sentiste mendiga ao dar a esmola, é forte, dá que pensar, como te sentiste mendiga por a vida ser assim. Beijos.

Zé Povinho disse...

A vida dá muitas voltas, eu que o diga, mas a realidade é dura quando sabemos olhar em volta com atenção. Gostei bastante.
Abraço do Zé

Pascoalita disse...

Fantástico! É como classifico o tqanto que dizes em tão parcas palavras.

Acho que teríamos entendido msm que não tivesses explicado a situação. O poema diz tudo!

E que dizer sobre os factos que o motivaram? Este país, ou melhor o mundo, está a transformar-se num "covil de pradadores" da pior espécie! Não dos pradadores habituais da selva, pq esses ainda têm respeito pelas vítimas.

Bom fim de semana

P.S. Dei uma voltita rápidas por aí e a forma de escrita parece-me familiar. Será??? Mas uma coisa eu sei ... quero ser tua leitora assídua. Assim me reste tempo para tudo.

Marco Santos disse...

Lindo, lindo, lindo.
A vida é assim, há os que sobem e os que descem. Pena é que a balança esteja desequilibrada.

quintarantino disse...

Há que endireitar a balança...

Pata Negra disse...

E os que sempre foram pobres senhores!?
-Aceitamos melhor porque nunca nos foram próximos, a guerra nas balcãs custou-nos bem mais do que na Somália, a morte de 1000 soldados americanos num ano custa-nos bem mais que a de 1000 iraquianos numa semana...
Um bom exemplo: se a pobreza absoluta algum dia nos bater à porta que tenhamos ao menos a humildade de sobreviver.

Menina do Rio disse...

TRiste...infelizmente não é só Portugal...

beijinhos

Tiago R Cardoso disse...

Infelizmente é a crueldade da vida. Muito bonito o poema.

Sol da meia noite disse...

É uma triste lição de vida que nos deixas neste poema...

O dia de amanhã é um enigma.

Beijinhos!

Zé Miguel Gomes disse...

"Por umas moedas, de lágrimas consumida,
ela estende a mão pela primeira vez na vida
e também eu, pela primeira vez, ao dar esmola
me senti igual a ela tão mendiga."

E somos nós isto, tão mendigos...

Obrigado pela passagem no meu blog, deixei lá um link para aqui.

Fica bem,
Miguel

amantedasleituras disse...

gostei do poema com carisma nobre.

é o nos resta na vida é sermos uns para os outros, pena que nem sempre agimos de forma igual.

Parabéns pelo acto e pelo gesto!

Unknown disse...

Querida acabo de publicar algo depois do teu comentário.

Vai ver e obrigada.

jinhos

Unknown disse...

Já está...

jinhos

Pascoalita disse...

Já fui testemunha de algumas "queda de impérios". Pena que isso raramente aconteça aos ricos soberbos e arrogantes.

Muito bonita, esta homenagem :)**

Sara disse...

Obrigada pela visita!
Gostei de te ler
:)

Alda Inácio disse...

Maravilhoso poema entre tantos que já li e adorei......realmente iso acontece e pior fica quando já sentimos a riquesa....e quando julgamos mal quem dá esmolas ou quem pede.....não queiramos estar na pele de quem pede esmolas....é o último degrau da escala humana.....parabens pelas palavras preciosas que nos dás. Alda

Teresa Durães disse...

já conheci gente que perdeu tudo e não hesitou em arregaçar mangas e trabalhar naquilo em que arrajava.

Não conheço a história desta senhora em particular.

boa semana

O Árabe disse...

Tocante poema, amiga. Bem o sabe quem já teve experiência com as voltas da vida...

Anónimo disse...

gostei imenso do teu gesto =) bj

Leonor disse...

ola cuco
(ou cuca?)
o teu blog caracteriza-se pela sensibildade. é bonito. eu gosto.
beijinhos

Adrianna disse...

Saltei do Blog da pascoalita para cá, dei um espreitadela por aqui e não quis sair sem dizer nada ...

Sei de pessoas que tralharam uma vida inteira no duro e viveram abastados, até perderam tudo aquando da independência das colónias.
Com mto esforço reergueram-se e anos depois um elemento da família envolveu-se em drogas e afins e deixou-os na penúria.

Levaram uma vida de trabalho, juntaram riquezas e acabaram na mais profunda miséria.

AJB - martelo disse...

por se ser crédulo e sensível à dor alheia somos muitas vezes enganados, mas nem sempre é assim e ajudar é pelo menos um peso que não se guarda na consciência...

Joana disse...

Será esse o caminho que muitos de nós teremos que percorrer?!?! Uns dias com tanto.... outros dias com tão pouco...
Teremos que fazer como alguns animais fazem.... apanhar no Verão, para poderem ter no inverno...
Guardar algum enquanto há, para poder suportar um pouco melhor os dias de menor fortuna.

Gostei bastante :)

Beijooo

Até já!**