quarta-feira, 15 de agosto de 2007

NÃO ME BATA!

O dia tinha amanhecido cinzento com uma neblina cerrada que molhava as ruas e as deixava lamacentas e pegajosas. Igual ao dia era o meu estado de espírito naquela manhã. Acordei mal-disposta e não atinava com nada do que fazia. Para ajuda o carro não pegou e o comboio vinha atrasado. E logo naquele dia em que tinha que preparar uma série de relatórios e tinha uma das empregadas doente!...
Foi então que o vi pela primeira vez. Chamava-se Mussaggi e teria, talvez, uns cinco anos. Os seus cabelos eram pura carapinha e tinha uns lindos olhos pretos magoados. Quando o vi estatelar-se no chão molhado corri para o levantar e foi então que reparei que ele estava sozinho. Fugindo, evidentemente. Olhou para mim com olhos suplicantes e disse aflito: "não me bata!" Recebi esta frase como um soco e olhei-o com mágoa. Estava tão habituado a ser maltratado que não admitia um gesto diferente. Vi-lhe o joelho a sangrar e o coração apertou-se-me ainda mais.
Levei-o comigo até um café onde tomámos tranquilamente o pequeno almoço. As minhas preocupações de início de dia ficaram para trás e durante uns bons momentos conversámos e rimos como bons amigos.

2 comentários:

M.MENDES disse...

Quando se é muito sofrido desconfia-se até de quem nos quer dar a mão.

Bichodeconta disse...

Escorraçados como cães vadios, estas crianças ficam com medo da própria sombra... Infelizes, tudo na vida lhes deixou de sorrir..Está nas nossas mãos mudar o mundo, espero que o consigamos fazer a tempo de evitar mais sofrimento a estas crianças.. Pertinente o tema, parabéns, Voltarei aqui certamente..Um abraço, Ell