quarta-feira, 15 de agosto de 2007

SÓ NAQUELE INSTANTE

Ambos sabiam que não voltariam a ver-se. No aeroporto de Frankfurt ele segurava-lhe a bagagem, na fila de despacho, com uma solicitude comovente. E indagava sobre pequenos pormenores que demonstravam uma preocupação acrescida. Chegou mesmo a lembrar-lhe que fizera mal em pôr na bagagem um pullôver de malha que talvez lhe fizésse falta na chegada a Lisboa que seria já noite.
Nenhum mencionava o momento, ou os momentos, que viriam a seguir. Quando fez o check-in, depois de um beijo e um abraço muito apertado, esperou em vão que ele se afastasse. Porém ele continuava colado ao vidro do portão por onde ela passara. E ela amou-o profundamente naquele instante. De uma forma total e avassaladora como não tinha memória. E ele esperava o sinal que não veio. Porque ela sabia também que aquele amor profundo e absoluto era apenas obra daquele instante. E só daquele instante. Quando o avião descolou ainda procurou, nos pontos pequeninos, algo que o indentificasse. E sentiu um vazio enorme ao não descobrir o que quer que fosse. Porém, quando quatro horas e meia mais tarde era anunciada a aterragem em Lisboa e ela pôde avistar, entre as luzes da noite, o Tejo e a ponte Vasco da Gama, sentiu-se completamente em casa. Mas sentiu também que , naqueles breves dois meses em que estivera fora, se tinham passado vários anos.

2 comentários:

Menina Marota disse...

Instantes avassaladores, que serão recordados com saudade...
Um abrço ;)

Finding Essex disse...

Bene... um texto bonito, bonito demais. Há realmente alturas que percebem-se em anos e se sentem até além do tempo invenção dos homens. E há momentos verdadeiros em que realmente se ama profundamente e só naquele momento como um despertar de sentires e reacções.
A saudade traduz muitas vezes oq eu foi uma situação vivida intensamente.

Um abraço.Gostei de te ver no Trampolim.