quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A LIÇÃO DO SEM-ABRIGO

Encontrei-o numa manhã, dessas manhãs em que andamos apressados e indiferentes a tudo o que nos rodeia. Acordamos cansados e, mecanicamente, vamos cumprindo todos os rituais que nos levam de casa ao trabalho. Era um dia cinzento e baço e eu tinha pressa, muita pressa, porque já estava atrasada. Na praça da Figueira o homem pediu-me uma esmola que eu neguei, por comodismo, para não ter que procurar a carteira na mala. O homem seguiu-me até ao café da esquina onde fui tomar a "bica" indispensável ao meu início de dia. E olhava para mim com ar insistente. Não dizia nada. Só olhava. Com um leve arripio de desconfiança cheguei mais a mim a mala de tiracolo. Este meu gesto não passou despercebido ao sem-abrigo que murmurou:"Escusa de segurar a mala. Pedi-lhe uma esmola mas não sou um ladrão".
Caí em mim e aprendi a lição. Passaram-se muitos anos mas não a esqueci.

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